segunda-feira, 13 de setembro de 2010

REPÚBLICA VELHA 1889-1930

A REPÚBLICA VELHA (1889-1930) Didaticamente denominamos a primeira fase da República brasileira (1889 - 1930) de Primeira República ou República Velha. Esta, por sua vez, divide-se em dois períodos: República da Espada (1889 - 1894) e República Oligárquica (1894 - 1930). a) A República da Espada (1889-1894) a.1) O Governo Provisório de Deodoro da Fonseca (1889-1891) O curto período denominado República da Espada deve seu nome ao controle dos militares, principal força da Proclamação. O destaque é o seu proclamador, marechal Deodoro da Fonseca, líder do Governo Provisório e do primeiro Governo Constitucional. A atuação do governo provisório (1889 - 1891) foi marcada por desacordos constantes, em virtude da inexperiência do marechal e da heterogeneidade do seu Ministério. Além disso, o fato de ter se cercado de monarquistas históricos dificultava ainda mais a tramitação das negociações entre os diversos setores componentes do governo. Entre as medidas tomadas por este Governo, destacam-se: • a adoção do federalismo, com a transformação das Províncias em Estados; • a extinção do Conselho de Estado; • a separação da Igreja do Estado; • convocação de uma Constituinte. A política econômica do Governo tentou realizar um projeto de incentivo à indústria do país. Era a influência dos setores de classe média no Governo que pressionavam por uma política que, finalmente, atendesse aos seus anseios de produção e consumo. O ministro da Fazenda, o jurista Rui Barbosa, realizou uma reforma bancária, permitindo a vá¬rios bancos a emissão de moedas para financiar a industrialização e uma alteração na política cambial, para proteger a indústria que pretendia implantar. A injeção de dinheiro no mercado provocou uma onda de falcatruas e especulações, desviando recursos da indústria para as Bolsas de Valores e para gostos supérfluos, aqui e no exterior. Ao invés de desenvolvimento, o país enfrentou a sua primeira crise, que ficou conhecida como O Encilhamento. Rui Barbosa caiu. A inflação disparou. A maioria das empresas que foram fundadas faliu. A classe média ficou sem desenvolvi¬mento. Em meio a esta gama de acontecimentos, foi elaborada por uma Assembléia Constituinte, uma nova Constituição, com influência marcadamente norte-americana. Promulgada no dia 24 de fevereiro de 1891, tinha as seguintes características: • forma de governo republicana; • sistema de governo presidencialista (o presidente é o chefe de Governo e de Estado); • tipo de Estado Federalista (os estados membros passaram a gozar de ampla autonomia); • divisão das funções do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário (extinção do Poder Modera¬dor); • fim da vitaliciedade do Senado; • separação da Igreja do Estado; • regime representativo, com o Poder Legislativo dividido em duas casas: Câmara e Se¬nado; • estabelecimento do voto universal, para maiores de 21 anos, com exceção de mulheres, analfabetos, praças de pré, mendigos e membros de ordens religiosas; • a eleição direta para presidente, com exceção da primeira, e o mandato de quatro anos. a.2) O Governo Constitucional de Deodoro (1891 - 1891) Nesse curto período Deodoro da Fonseca governa por decreto, desrespeitando a constituição. Hostilizado pelo Congresso, o presidente contrariando as determinações constitucionais, ordenou o fechamento do Poder Legislativo, a 3 de novembro de 1891. A Armada - que era como se chamava a Marinha na época - se revoltou, liderada pelo almirante Custódio de Melo e ameaçou bombardear o Rio de Janeiro com os seus navios exigindo a renúncia do presidente. Embora tenha recebido o apoio da maioria absoluta dos governos, para evitar uma guerra interna de conseqüências imprevisíveis, o marechal Deodoro preferiu renunciar, a 23 de novembro. Assumiu o vice, seu desafeto, Floriano Peixoto. Apoiado pelas Forças Armadas e pelos cafeicultores paulistas, Floriano declarou sem efeito a dissolução do Congresso Nacional. Porém, logo depois, determinou a ilegal exoneração de todos os governadores dos Estados, com exceção do Pará. Floriano foi pressionado a marcar novas eleições, como determinava o artigo 42 da Constituição de 1891, que dizia: (...) se, no caso de vaga, por qualquer causa, a Presidência, não houver decorrido dois anos do período presidencial, proceder-se-ão novas eleições. Floriano não se intimidou e afirmou desejar ficar no cargo até o término de seu mandato. A oposição atingiu até seus companheiros de armas. 13 generais assinaram um manifesto, afirmando ser o governo Floriano inconstitucional. O presidente simplesmente exonerou os generais. A Marinha se revoltou novamente, sob o comando de Custódio de Melo. Desta vez, o movimento foi mais intenso e recebeu o apoio de outros militares, como o do Almirante Saldanha da Gama, conhecido por suas posições monarquistas. Floriano organizou suas tropas em São Paulo para contra-atacar os rebeldes. Conseguiu também aparelhar uma nova Armada nos Estados Unidos e, com ela, venceu a esquadra de Saldanha da Gama. A repressão foi violenta e deixou um saldo de mais de 10 mil mortos. Apesar de fortalecido pelas vitórias, Floriano não tinha condições de fazer frente às oligarquias paulistas que, de resto, deram-lhe sustentação política e financeira para vencer os rebeldes. Desta forma, Floriano não indicou candidato para a sucessão presidencial de 1894 e nem ameaçou ficar no poder, como desejavam os florianistas que o transformaram em herói e mito. Floriano, por sua ação candente contra a desagregação territorial e o retorno dos monarquistas ao poder, ficou conhecido como o Consolidador da República. Pela forma até brutal de reprimir as revoltas e por seu jeito direto e franco de governar, passou à História como o Marechal de Ferro. b) A República oligárquica ou República dos Coronéis (1894-1930) b.1) A política na República Oligárquica Nesse período houve um forte domínio dos fazendeiros em torno do poder: 1º O Domínio Municipal: Conhecido como Coronelismo, consistia na hegemonia dos fazendeiros no poder político municipal. Através da corrupção, a oligarquia vencia todas as eleições. As fraudes mais constantes eram a compra de voto, o voto de favores, o uso da violência ou do carisma e o voto do bico de pena (este tipo de voto era de pessoas que já havia morrido. Ironicamente, era como se a caneta estivesse votando sozinha). 2º O Domínio Regional: Denominada “Política dos governadores”, era uma articulação e troca de favores entre as oligarquias federais, regionais, e municipais de todo o Brasil. A Comissão verificadora dos poderes, foi um instrumento importante que o governo brasileiro usou para reforçar a política dos governadores, seu objetivo era reconhecer a legitimidade dos deputados eleitos em cada estado e excluir os da oposição. O chefe dessa comissão era normalmente uma pessoa de confiançado presidente da República. 3º O Domínio Federal: A Política do Café com Leite seria uma supremacia de São Paulo e de Minas Gerais, tanto no cenário político quanto na economia nacional. SP e MG eram juntos, a base da economia (produziam café e leite) e detinham os maiores colégios eleitorais do país. Por isso é que ao indicar um nome para a presidência, facilmente venciam. b.2) A economia: Campos Sales (1898-1902), foi um dos mais importantes governantes desse período. Dois importantes fatos de seu governo se destacam, no campo econômico e político. A primeira grande preocupação desse presidente foi a de restabelecer o equilíbrio financeiro do país que, como vimos, encontrava-se em situação muito complicada. Para realizar esta tarefa, Campos Sales, contou com o auxílio do seu Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho. No âmbito externo, o Brasil conseguiu renegociar a dívida com os banqueiros ingleses, obtendo mais recursos e novos prazos de paga¬mentos. Em garantia, Campos Sales deixou a renda das alfândegas, da Central do Brasil e da central de águas do Rio de Janeiro. Este acordo ficou conhecido com o nome de funding loan. O problema é que o acordo externo não era suficiente para pôr ordem nas finanças nacionais. Outro importante aspecto da economia desse período foi a Política de Valorização do Café com o Convênio de Taubaté. No final de seu governo, Rodrigues Alves enfrentou a primeira crise de superprodução do café. Preocupados, os produtores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais reúnem-se em Taubaté, para discutir o que fazer. Decidiu-se que os governos estaduais interessados deveriam contrair empréstimos no exterior para adquirir parte da produção que excedia o consumo do mercado internacional. Desta forma, a oferta ficaria regulada e o preço poderia se manter. O governo garantiria os empréstimos e seriam formados estoques de café com o excedente. Não precisa nem dizer quem arcou com o ônus desse aumento de despesas; a população em geral. Os jornais da época ironizaram o acordo com a seguinte expressão: “a socialização dos prejuízos”. A indústria Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil manteve-se neutro até 1917. Nesse ano, após o afundamento do navio mercante brasileiro Paraná, romperam-se as relações diplomáticas com o Império Alemão. Em outubro de 1917, o Congresso declarou guerra aos alemães. A participação do Brasil consistiu em operações de patrulhamento das águas africanas. Além disso, foi enviada à Europa uma missão médica e muitos oficiais do Exército Nacional integraram as forças aliadas. Em face do envolvimento com o conflito, houve uma remodelação do exército brasileiro, provocando uma grande reação dos velhos oficiais, acostumados à antiga rotina. A principal conseqüência desse conflito para o Brasil foi econômica. Em face da interrupção das importações - principalmente inglesas - por causa do conflito que se desenrolava furiosamente na Europa, ocorreu um surto industrial no Brasil, com o desenvolvimento, principalmente, da indústria têxtil e alimentícia. O Estado, preocupado com a manutenção dos privilégios do setor agrário-exportador, não ajudou na consolidação do processo de substituição de importações, embora muitos cafeicultores investissem no surto industrial com os lucros provenientes da política de valorização bancada pelo próprio governo. O crescimento industrial fomentou o desenvolvimento capitalista e melhorou a infra-estrutura das cidades, ampliou a população urbana e intensificou o movimento operário. Disseminado em uma grande quantidade de pequenas fábricas, os operários sofreram a influência das idéias anarquistas, trazidas pelos imigrantes italianos e espanhóis. Em 1906, foi criada a Confederação Operária Brasileira (COB). Em 1912, essa entidade congregava quase 50 mil associados. Em 1917, reivindicando melhores condições de trabalho e aumento salarial - e influenciados pelas notícias da Revolução Russa - milhares de trabalhadores, em São Paulo, entraram em greve. Apesar da violenta repressão policial, os grevistas sustentaram o movimento e conseguiram o atendimento de algumas de suas reivindicações. O governo não assistiu passivamente à organização do movimento operário. Diversas leis foram publicadas tentando conter o movimento sindical. O conflito de interesses entre proprietários e operários marcou toda a República. b.3) As revoltas do período 1ª) A Guerra de Canudos (1893-1897) Prudente de Morais (1893-1894) teve que enfrentar uma poderosa re¬volta popular que incendiou o Nordeste e que ficou conhecida como a Guerra de Canudos. Fustigados pela miséria, ignorância, fome ¬provocadas pela concentração de terras - milhares de sertanejos nordestinos, agarrados quase que exclusivamente em suas crenças religiosas, reuni¬ram-se em torno de um líder místico que apregoava o fim do mundo e anunciava a salvação para os que o seguissem. Seu nome, Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro. Esse cearense, de fala poderosa, aglutinou milhares de pessoas e, com elas, fundou no interior da Bahia o Arraial de Belo Monte, que chegou a ser a segunda maior cidade do estado. O discurso for¬temente anti-republicano - que lhe valeu a falsa acusação de pretender restaurar a monarquia - e a migração maciça de mão-de-obra das fazendas para o arraial atraiu a ira dos poderosos que, com o auxílio do governo, começaram a fustigar a cidade de Canudos, com expedições policiais e militares. A tarefa de destruir Canudos e restaurar a ordem dominante das oligarquias não foi fácil. Foram necessárias quatro expedições, a última delas envolvendo praticamente todo o Exército, para que os sertanejos entregassem seus projetos e sonhos de uma vida melhor. A cada vitória dos seguidores de Antônio Conselheiro, instaurava-se o pânico no Rio de Janeiro. Acreditando no conteúdo político do movimento - e não conseguindo enxergar seu forte apelo social - a população carioca atacou os jornais monarquistas e elegeu o chefe religioso o representante do retrocesso. No sertão, os conflitos foram ferozes e não houve rendição. Quando a superioridade bélica das tropas do governo finalmente se impôs, a destruição foi total. "Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”. Euclides da Cunha, Os Sertões 2ª A Revolta da Vacina (1904) No governo, Rodrigues Alves põe em execução uma de suas promessas como candidato: colocar a capital do país, o Rio de Janeiro, à altura do progresso e desenvolvimento que os cafeicultores imaginavam poder realizar para o resto do país. Nessa época, o Rio de Janeiro sofria os efeitos do crescimento sem planejamento e da migração desenfreada. As doenças, como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela, deixavam um rastro de mortes que ia à casa dos milhares. As condições higiênicas da cidade eram precárias. O presidente entregou a tarefa da reurbanização ao prefeito nomeado Pereira Passos. O saneamento ficou por conta do sanitarista Osvaldo Cruz. Pereira Passos promoveu uma verdadeira revolução no centro da cidade, derrubando centenas de prédios e abrindo largas e arejadas avenidas. Além disso, foram baixadas rigorosas normas de trânsito e comércio no novo centro da cidade. Concomitantemente, o porto foi ampliado, de¬volvendo ao Rio a condição de porta de entrada e cartão de visitas do país. A elite e setores da classe média exultavam. A capital da República ganha a alcunha de “cidade maravilhosa”. Porém, nem todos festejaram essas mudanças. A população pobre que se viu deslocada para a periferia, longe de seu trabalho, alijada da “nova cidade”, não demonstrou tanto entusiasmo. Enfim, a cidade maravilhosa escondia, por trás de suas realizações majestosas, um quadro de cri¬se que esperava apenas um bom motivo para se manifestar com toda a força. E esse motivo foi a campanha da Vacinação Obrigatória, realizada por Osvaldo Cruz, para acabar com o surto de varíola na cidade. Por mais que a vacinação fosse conhecida no Brasil e já tivesse dado resultados em outros países, a truculência com que o projeto foi executado, sem uma maior campanha de esclarecimento público, somada ao oportunismo da oposição, que se aproveitou da insatisfação popular para jogar mais lenha na fogueira, geraram uma revolta que balançou gravemente os alicerces do governo. O governo foi obrigado a ceder e paralisou a Campanha. Milhares de pessoas foram presas. 3ª A Revolta da Chibata (1910) O Rio de Janeiro foi palco de uma outra revolta que eclodiu na primeira semana de governo de Hermes da Fonseca: A Revolta da Chibata. As péssimas condições de trabalho e a existência de castigos corporais levaram os militares subalternos de vários navios - Minas Gerais, São Paulo, Barroso e Bahia - a se rebelarem contra o governo. Liderados por João Cândido, um cabo de Marinha que ganhou o apelido de o Almirante Negro, os militares ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso o Congresso não aprovasse uma lei abolindo a chibata. Diante dessa situação, o Congresso reuniu-se, concedendo uma anistia geral e extinguindo as penas desumanas. Porém, a anistia durou pouco e vários líderes foram presos. Em dezembro, outra revolta, dessa vez na base naval da Ilha das Cobras, foi duramente reprimida pelo governo, com vários mortos e dezenas de presos. Vários marinheiros foram fuzilados no cargueiro “Satélite”. Muitos morreram nas masmorras da Ilha das Cobras, asfixiados com cal virgem, jogada dentro do subterrâneo. João Cândido sobreviveu às duras penas, com a saúde bastante debilitada. 4º a Guerra do Contestado (1912) Na região contestada, entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ocorreu, entre 1912 e 1916, uma violenta guerra camponesa. O local que foi palco dessa luta compreendida uma área de 48000 quilômetros quadrados, rica em ervais nativos e disputada na justiça pelos governos do Paraná e Santa Catarina. As razões do conflito social ali desenrolado têm grandes semelhanças com as do episódio de Canudos: concentração de terras, miséria, ignorância, forte elemento religioso, violência, repressão. Além dos latifúndios, a presença de companhias estrangeiras na região agravou ainda mais a situação dos camponeses. Extensas áreas devolutas foram cedidas pelo governo aos proprietários da companhia responsável pela construção de estradas de ferro São Paulo - Rio Grande. Além da expulsão de camponeses da região, ia-se despedindo os operários da obra à medida que a estrada de ferro se consolidava. De quebra, o grupo construiu uma enorme madeireira, comprometendo irremediavelmente os pequenos e médios madeireiros. A presença de milagreiros na área do contestado está vinculada ao estado de penúria e abandono da população do local. Sem expectativas e fortemente religiosos, esses camponeses se agarravam a líderes místicos, com ameaças de fim de mundo e promessas de salvação. Houve vários deles, porém foi José Maria D’ Agostini, na verdade Miguel Lucena Boaventura, que atuou como principal agente catalisador do descontentamento popular. Atacado pelas tropas policiais paranaenses, chefiadas pelo coronel João Gualberto, o monge José Maria foi morto. Os sertanejos, estupefatos, passaram a acreditar que ele ressuscitaria e, num clima de grande efervescência mística, criaram redutos e passaram a desafiar, com a sua presença próxima às fazendas, os latifundiários e as autoridades. O conflito se radicalizou. Adotando táticas de guerrilha e, cada vez mais, guiados por um radicalismo religioso, os “pelados” - como passaram a ser denominados os sertanejos - chegaram a dominar uma área de 28000 quilômetros quadrados e uma população de vinte a trinta mil habitantes, espalhados por vários redutos. O governo mobilizou o exército e até aviões foram usados para a identificação dos esconderijos. Hermes da Fonseca decretou estado de sítio. O conflito só foi “pacificado” em 1916, com a morte de milhares de sertanejos. 5º A fundação do PCB O ano de 1922 marcou o surgimento de várias manifestações contra o domínio das oligarquias. O movimento operário, com a fundação do PCB, dirigiu sua influência para as idéias socialistas, no rastro do sucesso da Revolução Russa. O aprimoramento da organização operária tornou-se um entrave a mais para os grandes fazendeiros. Em fevereiro ocorreu a Semana da Arte Moderna, que manifestou a insatisfação da classe artística com a ordem estática vigente e o seu desejo de rompê-la. Nesse sentido, a Semana de Arte Moderna e a fundação do PCB, refletem, na prática, as aspirações da classe média urbana, desejosas de romper com as estruturas oligárquicas. 6º O Tenentismo Foi o movimento tenentista que provocou maior apreensão nos donos do poder. Movimento liderado por jovens militares do exército, insatisfeitos com a ordem estabelecida e, desejosos de moralizar a vida política nacional, o tenentismo representava o fim da paciência da classe média urbana, através dos representantes fardados. Considerando-se os únicos capazes de salvar o país da corrupção dos “casacas” - como eram pejorativamente chamados os chefes civis - os tenentes não se conduziam por nenhuma ideologia determinada, mas por mudanças concretas, como a formação de um governo de salvação nacional e aspirações abstratas, como moralização, ética, transparência. O primeiro movimento ocorreu a 5 de julho de 1922, com o levante do Forte de Copacabana, no Rio de janeiro, liderados pelos jovens oficiais Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O movimento fracassou, mas não desencorajou essa parcela dos militares. A velha ordem oligárquica não seria mais a mesma a partir de então. Em 5 de julho de 1924 irrompeu o Levante de São Paulo, liderado pelos “Tenentes” Joaquim e Juarez Távora e pelo general Isidoro Dias Lopes. Durante todo o mês, o movimento se desenrolou na cidade de São Paulo, com muita violência. Acossados pelo governo e temendo pela vida dos civis, no dia 27, Isidoro Dias Lopes transferiu a luta para o interior. O movimento se espalhou por outras regiões. Em outubro iniciou-se no Rio Grande do Sul sob o comando do jovem capitão Luís Carlos Prestes. No sudoeste do Paraná as duas colunas - a gaúcha e a paulista - se encontram. A luta dos tenentes entrava em nova fase. Nascia desse encontro a legendária Coluna Prestes, comandada por Miguel Costa e Luís Carlos Prestes. Em uma jornada de mais de 25 mil quilômetros, por vários estados brasileiros, a coluna enfrentou forças regulares, polícias estaduais, milícias várias e até mesmo cangaceiros a soldo, sem nunca ser derrotada. Em fevereiro de 1927, enfraquecidos pelas batalhas, os tenentes internaram-se na Bolívia. Os Tenentes só retornariam ao Brasil para atuar na Revolução de 1930. 7ª A Revolução de 1930 A Revolução de 1930 foi na verdade, um movimento que rompeu com a hegemonia da aristocracia rural no poder e abriu espaço para novas forças políticas levando Getúlio Vargas ao poder. Suas principais causas foram: a) A exclusão dos setores urbanos do acesso ao poder político; b) Influência da Semana de Arte Moderna na construção de um imaginário coletivo favorável aos projetos das camadas médias urbanas; c) O Tenentismo que exerceu forte oposição às estruturas políticas e econômicas da República Velha; d) A Crise de 29 que atingiu o mundo todo devido à posição hegemônica dos Estados Unidos na economia mundial. O café era nosso principal produto, representando, nas duas primeiras décadas, 70% do valor de nossas exportações. Com a crise da Bolsa de Nova Iorque, a situação tomou-se desesperadora: os Estados Unidos e outras nações atingidas pela crise paralisaram as importações de café; o crédito externo foi suspenso; os débitos foram cobrados imediatamente. Em meio a essa crise deu-se a sucessão presidencial. E, ao conflito econômico, seguiu-se a divisão política. Irrompiam-se, por todos os lados, os frutos da discórdia. e) De acordo com a política do café-com-leite, o próximo candidato à presidência deveria ser um mineiro, no caso, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade. Porém, o presidente Washington Luís indicou outro paulista, o governador do Estado, Júlio Prestes. Em face disso, Minas rompeu a aliança e saiu em busca de novos aliados. Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas, conseguiu o apoio de João Pessoa, da Paraíba, e Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul. Juntos compuseram a Aliança Liberal e lançaram uma chapa de oposição com o governador gaúcho para presidente e o da Paraíba para vice. Os grupos discordantes apoiaram essa Aliança. Reforçaram esse apoio os tenentes, com exceção do líder Luís Carlos Prestes que, do exílio na Argentina, anunciou sua adesão ao comunismo e acusou a candidatura aliancista de continuísmo. Realizadas as eleições, a 1º de março de 1930, o candidato governista Júlio Prestes venceu as eleições. O controle da máquina eleitoral e o apoio dos coronéis foram decisivos. As populações urbanas, porém, não se conformaram e acusaram - com razão – de fraudada. O povo estava descontente, desesperado, e não desejava apenas a mudança de governo, mas, sim, mudanças sociais profundas. A revolução social, pelo rumor das massas, parecia estar em marcha. Diante desses fatos, Antônio Carlos de Andrada reuniu a oposição e, demonstrando grande lucidez política, disse: “Façamos a Revolução antes que o povo a faça”. O assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, foi o estopim para que começasse a Revolução. Embora a morte do governador tivesse sido provocada por razões pessoais, a repercussão dos acontecimentos acabou envolvendo a figura de Washington Luís, e levantou os ânimos da oposição. Em 3 de outubro de 1930, Osvaldo Aranha e Flores da Cunha deram início ao movimento, tomando um quartel em Porto Alegre. Ao mesmo tempo e do dia a revolução em Minas Gerais e na Paraíba. Em pouco tempo o Norte e o Nordeste estavam nas mãos dos revoltosos, liderados por Juarez Távora. No Sul, os revolucionários marchavam em direção a Santa Catarina e Paraná. Curitiba foi ocupada no dia 10 de outubro. Em Itararé, São Paulo, os legalistas concentravam suas últimas forças. Antes, porém, do confronto com os rebeldes, uma Junta Pacificadora depôs Washington Luís. No dia 3 de novembro, Getúlio Vargas chegou ao Rio de Janeiro e se tornou presidente provisório, abrindo caminho para a ascensão de novas forças sociais, como a classe média e a burguesia industrial, rompendo assim o monopólio das oligarquias.